A vida pública foi a escolha natural e até mesmo esperada
para Bruno Covas Lopes, que, ainda adolescente, passou a “beber da fonte” ao
decidir morar com o avô em São Paulo. O ex-governador Mário Covas não só
ensinou o neto a gostar de política como o colocou numa trajetória eleitoral
vitoriosa encerrada de forma precoce na manhã deste domingo, 16, no Hospital
Sírio-Libanês. Aos 41 anos, o prefeito de São Paulo morreu por complicações de
um câncer. O tucano deixa o filho Tomás, de 15 anos.
"O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, faleceu hoje às
8h20 em decorrência de um câncer da transição esôfago gástrica, com metástase
ao diagnóstico, e suas complicações após longo período de tratamento",
informou a nota de falecimento assinada pelos médicos que acompanhavam Covas. O
velório começou à tarde na Prefeitura de São Paulo, em cerimônia restrita a 20
convidados que, em função da pandemia do coronavírus, pode ser acompanhada via
YouTube. Ao fim, o caixão será transportado em um caminhão do Corpo de
Bombeiros, passando pela Avenida Paulista, com destino a Santos, onde o
prefeito será sepultado.
Fazia um ano e meio que Covas lutava contra a doença que
também matou o avô, em 2001. Na época, Bruno tinha 20 anos e já se preparava
para assumir a herança política da família. Cinco anos antes, havia trocado sua
casa em Santos, no litoral paulista, pelo Palácio dos Bandeirantes para
concluir os estudos na capital.
Inteligente e determinado, foi aprovado em duas faculdades
ao mesmo tempo: Direito, na USP, e Economia, na PUC. Formou-se nas duas em um
período de oito anos, época em que passou a experimentar seu potencial político
em grêmios estudantis e dentro de seu partido.
Bruno se filiou ao PSDB aos 17 anos. Nessa época, era um
jovem cabeludo apaixonado por rock que já se destacava pela capacidade de
mobilização. A “turma” que fez na base jovem do partido sempre o acompanhou. Os
mais próximos – Fábio Lepique e Alexandre Modonesi – ocupam cargos-chave na
Prefeitura.
Antes de comandar a maior cidade da América Latina, Bruno
foi eleito deputado estadual por duas vezes, deputado federal e vice-prefeito.
Assumiu o posto de prefeito com a renúncia de João Doria (PSDB), em 2018, e
depois se reelegeu como cabeça de chapa. Nisso, aliás, o neto superou o avô.
Mário Covas não chegou ao cargo por escolha popular. Ele foi
o último prefeito biônico antes da democratização, em 1983. Bruno seguia uma
história parecida – era o vice na chapa vencedora de 2016 –, até ganhar a
eleição em segundo turno, ano passado, com 3,1 milhões de votos.
Desde criança, quando fez a carteira do Clube dos
Tucaninhos, o objetivo de Covas sempre foi entrar na política, seguir os passos
do avô e chegar ao Palácio do Planalto. “Quem começa como estagiário quer
chegar a CEO. É o natural de qualquer carreira”, disse ao Estadão, durante a
eleição de 2020. Foi com esse foco que escolheu se formar advogado e
economista.
Sua primeira atuação política mais direta se deu em junho de
2002, um ano após a morte do avô, quando agiu para barrar uma aliança da sigla
com Orestes Quércia, do então PMDB, que também buscava se aproximar do PT nas
eleições estaduais. Quércia teve de conversar com o jovem político.
Foco
Mas, se os ensinamentos do avô o seguiram por toda a vida, o
mesmo não se pode dizer do temperamento. Mais contido, Bruno nunca foi um
orador explosivo ou um político midiático. Pelo contrário. Tímido e
disciplinado, o prefeito sempre calculou bem as palavras e seguiu o script
determinado dentro ou fora de uma campanha eleitoral.
Sem colecionar inimigos e com respaldo popular, Bruno estava
no auge de sua carreira política. A eleição havia lhe dado confiança para
começar a impor seu modo de governar e traçar o futuro. Diferentemente de
Doria, considerava-se “PSDB raiz”.
Mas os planos como prefeito eleito só duraram dois meses. Em
fevereiro, os médicos de Covas descobriram novos tumores e a quimioterapia
recomeçou. Dois meses depois, outros exames indicaram metástase nos ossos.
Debilitado, precisou tratar complicações como água no pulmão e sangramento na
cárdia.
Toda a evolução da doença foi exposta aos eleitores de forma
transparente. Covas não só liberou sua equipe a informar diariamente a imprensa
de sua situação clínica como pediu aos médicos que atendessem jornalistas e
tirassem suas dúvidas sobre os avanços do câncer. A prática se tornou mais
comum a partir de abril, quando cinco tumores foram identificados no fígado, um
nos ossos da coluna e outro nos ossos da bacia.
Até esse momento, aliados de Covas mantinham-se esperançosos
com a possibilidade de cura. As metástases e o sangramento na cárdia, no
entanto, abalaram a confiança até mesmo dos médicos, e a palavra sobrevida
passou a compor o repertório de quem acompanhava o prefeito mais de perto.
Já com dores e cada vez mais debilitado, o tucano pediu
licença do cargo no último domingo, 2. Afirmou pelas redes sociais que a
"vida havia lhe apresentado enormes desafios" e que, diante dos novos
focos da doença, "seu corpo estava exigindo mais dedicação ao tratamento,
que entrava numa fase muito rigorosa".
Covas autorizou ser sedado e intubado para se submeter ao
exame de endoscopia que apontou o sangramento entre o esôfago e o estômago.
Muito apegado ao único filho, Tomás Covas Lopes, com quem
dividia um apartamento de 70 metros quadrados na Barra Funda, zona oeste da
cidade, Covas deixa, como o avô, novo herdeiro na política.
Além de santista roxo, como o pai, o adolescente também
revela interesse e talento para a vida pública. No dia em que Bruno foi
reeleito prefeito, fez discurso à militância e disse ao Estadão: “Pretendo
entrar na Juventude do PSDB quando fizer 17 ou 18 anos. Eu tenho vontade de
fazer política.” – Estadão.
Carlos Magno
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