A CPI da Covid no Senado apreendeu, nesta quinta-feira (27),
o celular do policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que diz ser representante
no Brasil de uma empresa privada que atuaria na intermediação de contratos de
vacinas – a Davati Medical Supply.
A apreensão foi motivada por dúvidas da CPI sobre o contexto
de um áudio atribuído ao deputado Luis Miranda (DEM-DF), citado e reproduzido
por Dominguetti durante a fala à comissão. O policial diz que Miranda tentou
negociar aquisição de vacinas contra a Covid diretamente com a Davati.
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Os nomes de Miranda, de Dominguetti e da Davati vieram à
tona, nos últimos dias, em razão de duas denúncias distintas de supostas
irregularidades na compra dos imunizantes (entenda abaixo).
Dominguetti usou o áudio como "prova" da afirmação
de que Luis Miranda teria tentado intermediar compra de vacinas. O áudio (ouça
no vídeo abaixo), no entanto, não cita a palavra vacina ou qualquer sinônimo.
Envolvidos negam
relação
Mesmo antes de reproduzir o áudio, Dominguetti já havia dito
que não chegou a tratar diretamente com o deputado Luis Miranda. A conversa
teria sido com o CEO da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho.
"O Cristiano me relatava que volta e meia tinha
parlamentares procurando, e o que mais incomodava era o Luis Miranda, o mais
insistente com a compra e o valor de vacinas. O Cristiano me enviou um áudio
onde pede que seja feita uma live, o nome dele, que tinha um cliente
recorrente, que comprava pouco, em menos quantidade, mas que poderia conseguir
colocar vacina para rodar", declarou.
Ao jornal "O Globo", na manhã desta quinta,
Cristiano Alberto Carvalho negou que o áudio divulgado por Dominguetti fizesse
referência a alguma negociação de vacinas.
O próprio deputado Luis Miranda também negou à CPI que o áudio
tenha relação com vacinas contra a Covid, segundo informou o presidente da
comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM).
"Há pouco fui conversar com o deputado uis Miranda,
chamei outros membros, o senador Fernando bezerra estava junto, o senador
Marcos do Val. E fiz questão que tivesse testemunha da minha conversa com ele
para que depois não pairasse dúvida que eu tinha induzido", disse Aziz.
"O que ele [Miranda] diz é que esse áudio é de 2020,
que é uma negociação nos Estados Unidos, não tem nada a ver com Brasil. É um
áudio que nem se falava em vacinas ainda e que está editado aqui para
prejudicá-lo. Ele foi agora a polícia levar o áudio completo, fazer denúncia
crime e que irá dispor para gente a edição do áudio, está certo?",
declarou o presidente da CPI.
Testemunha 'plantada'
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) levantou, na comissão,
a suspeita de que Dominguetti tenha sido "plantado" para confundir os
trabalhos.
"Com todo respeito, essa testemunha foi plantada aqui.
Ela foi plantada, ela está em estado flagrancial do artigo 342. Tem que dar voz
de prisão a esse depoente", disse Contarato.
"Com base em que o senhor fala isso? Plantada por
quem?", questionou o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO).
"Com base em quê? Olha aí qual é a conversa, a conversa
anterior a esse áudio. Esse áudio se refere a que? Ele se refere a Walmart, a
pequenos contratos, ele nunca fez contrato nenhum com o Ministério da Saúde,
pelo amor de Deus", respondeu Contarato.
Luis Miranda e Davati
O deputado Luis Miranda entrou no escopo da CPI depois que o
irmão dele, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, afirmou ao
Ministério Público ter sofrido "pressões atípicas" na pasta para
liberar os documentos de aquisição da vacina indiana Covaxin.
Os irmãos depuseram à comissão na última sexta-feira (25),
quando reafirmaram a existência de irregularidades nesse processo. O deputado
disse que levou as denúncias ao presidente Jair Bolsonaro – que teria citado o
nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) como possível
envolvido e prometido levar o caso à Polícia Federal.
Bolsonaro já confirmou que se reuniu com os irmãos Miranda,
mas disse que não ouviu tais denúncias da dupla.
Já a empresa Davati entrou no radar da comissão em razão de
outras denúncias, feitas por Luiz Dominguetti ao jornal "Folha de S.
Paulo" e divulgadas na última terça (29).
Segundo Dominguetti, que se diz representante da firma, o
então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Rodrigo Dias, pediu propina
de US$ 1 por dose de vacina da empresa Astrazeneca ao negociar um contrato de
compra de 400 milhões de doses.
A Davati seria uma intermediária dessa transação, de acordo
com Dominguetti. A empresa, no entanto, informou que Dominguetti é um
"vendedor autônomo" e negou ter convênio para venda da vacina da
AstraZeneca. Em nota, a AstraZeneca afirmou que não tem um intermediário no
Brasil.
Na noite de terça, após a publicação da "Folha",
Rodrigo Dias foi exonerado. Na quarta, Dominguetti foi convocado pela CPI e,
nesta quinta, compareceu ao Senado para prestar depoimento à comissão – G1.
Carlos Magno
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