O presidente Jair Bolsonaro admitiu, em live nesta
quinta-feira (29), que não tem provas para afirmar que haja risco de fraude no
sistema atual de urnas eletrônicas – ou que as últimas eleições realizadas no
país tenham sido fraudadas.
Bolsonaro convocou veículos de imprensa e usou a emissora
pública de televisão para uma transmissão em tempo real na qual, segundo
anunciou, seriam mostradas "provas" das fraudes.
A transmissão se estendeu por mais de duas horas e Bolsonaro
tratou de diversos temas não relacionados às eleições. Em vez de provas, no
entanto, o presidente apresentou uma série de notícias inverídicas e vídeos que
já foram desmentidos diversas vezes por órgãos oficiais.
Foto: Reprodução/Youtube
"Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo
a acusação. Apresente provas de que ele não é fraudável", declarou
Bolsonaro em determinado momento.
"Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou
foram fraudadas", disse, minutos depois.
"Não temos provas, vou deixar bem claro, mas indícios
que eleições para senadores e deputados podem ocorrer a mesma coisa. Por que
não?", apontou em um terceiro momento.
'Especialista' do
governo
Ao longo de toda a transmissão, Bolsonaro esteve ao lado de
um "especialista" apresentado por ele apenas como "Eduardo, analista
de inteligência". Questionada inicialmente, a Secretaria de Comunicação da
Presidência da República (Secom) disse não ter a identificação completa do
homem.
Ao fim da "live", o governo informou tratar-se de
Eduardo Gomes da Silva, coronel do Exército e ex-assessor especial do ministro
Luiz Eduardo Ramos na Casa Civil. Segundo Bolsonaro, o coronel hoje trabalha
justamente na Secretaria de Comunicação.
O currículo divulgado pelo Planalto não informa qualquer
especialização na área de programação ou segurança da informação.
"A pessoa que viria fazer a demonstração aqui
demonstrou muita preocupação pela sua exposição. É um civil. E resolveu então
passar as informações para o Eduardo, de modo que ele explanasse aqui. De nada
diminui o serviço prestado pelo Eduardo, porque a mesma coisa seria apresentada
pelo outro cidadão. Se ele se garantir seguro no futuro, pode ter certeza que
ele participará de momentos outros como esse", declarou Bolsonaro.
Notícias falsas
Ao iniciar a apresentação, Eduardo afirmou que mostraria
"fatos, acontecimentos". Na prática, mostrou material que já foi
amplamente desmentido.
"Esses vídeos, todos eles estão disponíveis na
internet. E por que nós fizemos questão de buscar nessa fonte? Porque é o povo.
Essas pessoas não foram pagas para fazer isso, elas demonstraram interesse em
ter uma democracia melhor, mais avançada, mais justa e transparente",
declarou.
O material apresentado por Eduardo incluiu, por exemplo,
vídeo antigo em que um programador dizia simular o código-fonte de uma urna
eletrônica para, em seguida, mostrar supostas formas de fraudar o sistema.
"Em termos de dispositivo de hardware, a urna é um
computador. Porém, não é um computador comum de mercado, mas sim projetado
conforme exigências estabelecidas pelo TSE para garantir a segurança de seu
hardware", explica o Tribunal Superior Eleitoral, em nota.
A apresentação no Palácio da Alvorada recorreu a outro boato
já desmentido por órgãos oficiais: o de que a "estabilidade" nas
divulgações parciais da apuração dos votos em São Paulo, nas eleições
municipais de 2020, seria um indício de fraude.
Como mostrou o Fato ou Fake, esta estabilidade é comum, se
manteve praticamente ao longo de toda a apuração e já aconteceu em anos
anteriores, inclusive em eleições maiores.
Ministro Barroso
Em vários momentos da transmissão, o presidente voltou a
fazer críticas ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro
Luís Roberto Barroso, que é contrário à adoção do voto impresso.
Sem provas, Bolsonaro disse que o magistrado quer
"manter a suspeição das eleições" e levantou suspeitas de que Barroso
teria atuado junto a parlamentares para tentar barrar o avanço da PEC do voto
impresso na Câmara.
Mais cedo, nesta quinta-feira, Barroso participou da
inauguração da nova sede do Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC). Em
pronunciamento, o ministro do Supremo Tribunal Federal disse que o discurso de
que “se eu perder, houve fraude” é de quem não aceita a democracia. O STF e o
TSE vêm reiterando a confiabilidade e a lisura do sistema.
Em uma crítica ao Judiciário e ao ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), Bolsonaro afirmou não ser possível "os caras que
tiraram o outro da cadeia serem as mesmas pessoas a contarem os votos" das
eleições.
Além de exibir as notícias e vídeos falsos, de atacar o TSE
e os governos petistas, o presidente criticou o trabalho da imprensa que, nas
palavras do presidente, leva ao "envenenamento" da população. Ele
também fez críticas às pesquisas eleitorais sobre a eleições de 2022, que
apontam Lula com altos percentuais de intenção de voto.
Ao longo da transmissão, o presidente também fez acenos a
segmentos da população que compõem a sua base eleitoral – principalmente,
militares e evangélicos – G1.
Carlos Magno
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