O presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AM), abriu a
reunião desta terça-feira (10) da comissão lendo uma nota oficial em protesto
contra o desfile de blindados da Marinha realizado na Esplanada dos Ministérios
no mesmo dia que a Câmara vai votar proposta do voto impresso. Conforme o
documento, o presidente Jair Bolsonaro imagina demonstrar força, mas evidencia
fraqueza de alguém que está acuado por investigações de corrupção e pela
incompetência administrativa que provoca mortes, fome e desemprego em meio a
uma pandemia sem controle.
"Todo homem público, além de cumprir suas missões
constitucionais, deveria ter medo do ridículo, mas Bolsonaro não liga para
nenhum desses limites, como fica claro na cena patética de hoje, que mostra
apenas uma ameaça de um fraco, que sabe que perdeu", disse.
Foto: Pedro França/Agência Senado
Ainda conforme a nota, o chefe do Executivo criou uma
encenação, uma coreografia, para mostrar que tem o controle das Forças Armadas
e que pode fazer o que quer no país, o que é "um absurdo
inaceitável".
Omar lembrou que o Brasil vive o maior período democrático
de sua história: desde 1985 convivendo com eleições livres, independência dos
Poderes e instituições fortes. Ele disse que defender golpe não é aceitável, e
defender o fim da democracia exige punição com o rigor da lei.
"Não haverá voto impresso, não haverá qualquer tipo de
golpe contra a nossa democracia porque as instituições, com o nosso Congresso à
frente, não deixarão que isso aconteça", afirmou.
Intimidação
A leitura da nota oficial foi seguida pela manifestação de
outros 15 senadores antes de a CPI ouvir o tenente-coronel da
reserva Helcio Bruno de Almeida, presidente da ONG Instituto Força
Brasil. Para a maioria parlamentares do colegiado, a demonstração da
Marinha foi vista como tentativa de intimidação, pois ocorreu no mesmo dia
em que a Câmara dos Deputados deve optar pela rejeição da proposta do voto
impresso, defendida por Jair Bolsonaro.
Falando em nome do MDB, o senador Eduardo Braga (AM)
destacou que o Brasil é a terceira maior democracia do mundo, atrás apenas da
Índia e dos Estados Unidos, e lembrou que o desfile de blindados ocorreu no
mesmo dia também que o Senado vai votar revogação da Lei de Segurança
Nacional.
— Eu fico com a democracia e com a Constituição que diz
que todo poder emana do povo e em nome do povo será exercido. O MDB não poderia
deixar de lembrar Ulisses Guimarães e dizer que a Constituição é farol que há
de guiar a democracia brasileira - acrescentou.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), classificou
de patética e uma demonstração de fraqueza do presidente a ação de hoje. Para
ele, foi mais patético até que os desfiles militares realizados pelo governo da
Coreia do Norte, pois estes ao menos visam a demonstrar poderio bélico para
inimigos externos.
— O [desfile] de hoje foi feito para esconder e desviar
atenção para o que realmente importa: o balcão de negócios que foi transformado
o Ministério da Saúde e os esquemas de corrupção que esta CPI está descobrindo.
Mas a resposta vai vir hoje com a rejeição do voto impresso. O brasileiro
quer é retomada econômica, vacina no braço e inflação contida. Quero acreditar
que as forças armadas são leais ao seu povo e à nação e não a qualquer
inquilino de plantão do Palácio do Planalto — opinou.
Os senadores Humberto Costa (PT-PE), Otto Alencar (PSD-BA)
Rogério Carvalho (PT-SE) destacaram não ser a primeira vez que o presidente
Jair Bolsonaro se utiliza do cargo para tentar intimidar os parlamentares. Só
que a estratégia, na opinião deles não vai funcionar, pois o Congresso não vai
recuar diante de ameaças. Eles cobraram também uma melhor atuação do governo
para melhorar a situação do país.
— Ele deveria se preocupar com a inflação, com as
pessoas que perderam a vida na pandemia e em gerar emprego e renda para 15
milhões de desempregados. Mas nada disso o comove. Apenas se preocupa em
proteger seu mandato fazendo campanha antecipada — avaliou Otto Alencar.
Defesa
Parlamentares governistas e considerados independentes
também se manifestaram sobre o episódio. O senador Marcos Rogério (DEM-RO), por
exemplo, disse que desfiles promovidos por forças armadas não o assustam nem o
constrangem. Para ele, o que é constrangedor e assustador é o "desfile de
corrupção, de roubalheira de dinheiro público saindo do Brasil para financiar
obras e serviços em países dominados por ditadores e comunistas, num
alinhamento de esquerda".
— Esse desfile com a chancela do PT me incomoda, me dói e me
tira a paz e a paciência porque faltou para os brasileiros. Hoje vivemos o
caos em função da pandemia, mas talvez o impacto tivesse sido menor se não
tivessem nos roubado tanto. O desfile dos militares nas avenidas não me
amedronta. Quem tem medo de militar tem suas razões, mas eu não tenho medo.
Tenho medo de quem usa o poder para tirar do povo. Felizmente os brasileiros
nas urnas apertaram o botão da mudança — alegou.
O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho
(MDB-PE), disse concordar com a defesa da democracia feita pelos colegas
oposicionistas, mas não com excessos nas falas de alguns deles.
Ele lembrou ainda de sua história no Congresso Nacional e afirmou que
aposta na democracia e no Estado de direito para superar momentos de maior
tensão.
— Nosso papel como membros do Congresso Nacional é
criar e apostar em um ambiente de diálogo — avaliou.
Voto impresso
Jorginho Mello (PL-SC) e Luis Carlos Heinze (PP-RS) saíram
de defesa do voto auditável como forma de dar mais segurança e transparência à
democracia. O representante de Santa Catarina foi além ao dizer que a ação
militar foi superdimensionada e que houve um "cavalo de batalha" sem
necessidade sobre o tema.
— Desde 1988, a Marinha faz faz esse desfile e agora
dizem que isso é um perigo pra democracia. Perigo é meter a mão no baleiro e
roubar. Que isso? Vamos trabalhar, vamos fazer outra coisa! Isso é demagogia
barata! A roubalheira parou faz tempo e talvez alguns aqui estejam preocupados
com isso. Tem muita gente no Congresso com o rabo sujo. É só demagogia e
conversa mole. Vamos trabalhar! — afirmou.
Coincidência
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), por sua vez, mostrou-se
desconfiado; pois, para ele, nada acontece por acaso. Segundo o representante
do Distrito Federal, as forças armadas nunca agem de improviso, e o desfile de
hoje já deveria estar agendado faz tempo.
— Sinceramente gostaria muito de saber por que a Câmara
agendou exatamente para o mesmo dia, pois podem ter certeza, as forças armadas
já tinham agendado isso. E por que também parlamentares no Planalto, como o
nosso colega Ciro Nogueira [ministro chefe da Casa Civil e senador licenciado]
e a deputada Flávia Arruda [secretária de Governo da Presidência da República],
não alertaram para isso com relação à votação do Plenário? Existe alguma coisa
no ar que nós temos que descobrir — alegou – Agência Senado.
Carlos Magno
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