Neste ano de 2021, a gasolina já acumula avanço de 51%. Nos
postos, o preço já ultrapassa R$ 6 o litro na maior parte do país. Segundo o
IPCA-IBGE, em 12 meses a gasolina acumula aumento de quase 40%. Contudo, neste
mês, a Petrobras anunciou o pagamento antecipado de R$ 31,6 bilhões para os
seus acionistas, relativo ao exercício deste ano. O lucro líquido registrado
pela empresa no segundo trimestre foi de R$ 42,9 bilhões.
Para especialistas do setor energético, a alta dos preços
dos combustíveis e a distribuição de dividendos bilionários ao mercado
financeiro guardam íntima relação. São também resultado da política adotada
pela Petrobras desde 2016, que atrela os preços praticados ao dólar e às
cotações do petróleo no mercado internacional.
Foto: Geraldo Falcãoi/Agência Petrobras
“Combustíveis mais caros para quem está mais pobre; lucros
maiores para quem já é e está ficando mais rico”, sintetizou a economista-chefe
do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), Juliane
Furno. Em artigo publicado no site Brasil de Fato, ela aponta “contradição
fundamental” no papel desempenhado pela Petrobras. Ao mesmo tempo em que nasceu
vocacionada para atender os interesses públicos, como empresa mista, e não 100%
estatal, tem outra face voltada aos interesses do mercado.
“O Estado brasileiro hoje fica com apenas 34% de todo o
lucro gerado, enquanto os investidores externos são os principais beneficiários
do lucro da companhia.”
De 2018 para 2019, por exemplo, o lucro distribuído aos
acionistas cresceu 51%, “para a alegria dos representantes do ‘mercado'”, frisa
Juliane. Já o aumento dos combustíveis, segundo ela, colabora para que todas as
mercadorias também fiquem mais caras, estrangulando ainda mais o orçamento das
famílias, que sofrem com a volta da fome, o desemprego e cortes de salários.
Forno a lenha
O sociólogo Rafael Rodrigues da Costa e o economista Eduardo
Costa Pinto, pesquisadores do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), também explicam que o “recorde” de
dividendos distribuídos aos acionistas se deu em função de “uma expressiva
recuperação das receitas de vendas dos derivados, sobretudo o diesel, a
gasolina e o GLP”. Em artigo publicado no portal UOL, eles também concordam que
esse aumento é “reflexo” da política de paridade de preços internacionais
adotada pela estatal.
Eles afirmam que a atual gestão da estatal, sob comando do
general da reserva Joaquim Silva e Luna, tem colocado “o lucro acima de tudo” e
os “acionistas acima de todos”. “Enquanto os acionistas agradecem, a população
com menor renda passou a utilizar a lenha para cozinhar em substituição ao gás
de cozinha. Quais são os limites da maximização dos lucros para os acionistas
de uma empresa estatal? A atual gestão da Petrobras parece não ter nenhum.” –
Rede Brasil Atual.
Carlos Magno
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