O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto
Barroso autorizou a remessa para a Polícia Federal (PF) de um conjunto de
provas colhidas pela CPI da COVID. O material aponta suspeitas de disseminação
de notícias falsas envolvendo o combate à doença, feita pelo presidente Jair
Bolsonaro (PL) e seus aliados. A medida visa permitir que a PF analise e
sistematize a documentação e tem o objetivo de aprofundar as investigações.
A decisão do ministro foi proferida na quarta-feira (20/4),
após pedido do procurador-geral da República Augusto Aras, e acontece seis
meses depois da CPI ter aprovado o relatório final, atribuindo vários crimes ao
presidente em sua gestão da pandemia.
Foto Fernando Frazão/Agência Brasil
Segundo Aras, o relatório não identificou de forma detalhada
as provas que poderiam imputar o delito de "incitação ao crime" a
Bolsonaro e oito de seus aliados, incluindo seus filhos Eduardo e Flávio
Bolsonaro. Assim, o procurador-geral decidiu enviar o material para uma análise
da PF. Aras, porém, afirmou que não via elementos para pedir abertura de
inquérito neste momento, mantendo o processo apenas em um estágio de
investigação preliminar.
"No que tange à remessa dos autos à Polícia Federal, a
PGR informa que o relatório da CPI não foi preciso em vincular as condutas
supostamente criminosas aos documentos colhidos durante a investigação. Há,
portanto, a necessidade de sistematizar a documentação apresentada a fim de que
se possa subsidiar eventual pedido de instauração de inquérito, arquivamento ou
oferecimento de denúncia. Tendo em vista a dificuldade apresentada pela PGR e a
necessidade de análise mais precisa dos fatos, acolho o presente
requerimento", diz um trecho da decisão de Barroso.
O ministro também retirou o sigilo dessa petição, que é uma
das dez investigações preliminares abertas por Aras após o recebimento do
relatório final da CPI da COVID.
Em dezembro do ano passado, a Advocacia-Geral da União (AGU)
enviou um documento ao STF em nome do presidente, do ministro do Trabalho, Onyx
Lorenzoni, do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e dos deputados Eduardo
Bolsonaro (PL-SP), Ricardo Barros (PP-PR), Bia Kicis (PL-DF), Osmar Terra
(MDB-RS) e Carla Zambelli (PL-SP).
A AGU pediu o arquivamento do processo, sob a alegação que
as declarações feitas por eles estão amparadas pelo princípio da liberdade de
expressão. Além disso, o órgão argumenta que não há indícios que sustentem as
conclusões do relatório da CPI. Para a AGU, houve "indiciamento
político".
"O Relatório Final da Comissão Parlamentar de
Inquérito, de maneira equivocada e sem lastro de juridicidade, pretende
criminalizar a liberdade de opinião, motivada por simples divergência política
e de entendimento, em franca incompreensão do debate político - que é plural -
e da possibilidade de exteriorização de ideias divergentes, marca indissolúvel
de países que se pretendem democráticos", diz trecho um trecho documento,
assinado pelo advogado-geral da União, Bruno Bianco - EM.
Carlos Magno
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