A pressão para que o senador Aécio Neves (MG), eleito
deputado federal, saia do PSDB cresceu na última quinta-feira, 20, após a
segunda fase da Operação Ross, da Polícia Federal, que cumpriu mandados de
busca e apreensão em endereços ligados à família do tucano. A primeira
representação pedindo a expulsão de Aécio do PSDB foi protocolada nesta quinta
na Executiva Nacional do partido e deverá seguir para o Conselho de Ética.
Endereçada ao presidente do PSDB, Geraldo Alckmin, a
representação é assinada pelo deputado Wherles Fernandes da Rocha (AC), sob
alegação de quebra de decoro parlamentar por parte do senador. O documento foi
redigido antes mesmo da operação deflagrada nesta quinta.
“Nós temos de preservar o PSDB, que está pagando uma conta
muito alta por causa do desgaste do Aécio”, disse Rocha ao Estado. “Queremos
que o partido se posicione: ou Aécio sai ou vamos ter uma debandada no PSDB.
Mas achamos que quem tem de sair é ele, e não nós.”
A Operação Ross investiga denúncia de que a JBS teria pago
propina de R$ 128 milhões a Aécio e a seus aliados, de 2014 a 2017, tendo parte
desse valor servido para alimentar a compra de apoio político na campanha
eleitoral de quatro anos atrás. Delações do empresário Joesley Batista e de
outros executivos do grupo J&F também indicaram o pagamento de uma “mesada”
de R$ 50 mil ao senador.
“As gravações são mais do que cristalinas e mostram a quebra
do decoro. Não estou nem me prendendo à questão criminal”, argumentou Rocha.
Oficial da Polícia Militar, o deputado foi eleito vice-governador do Acre no
primeiro turno da eleição, em outubro.
Na representação a que o Estado teve acesso, com 31 itens,
Rocha afirma que, após Aécio ter sido obrigado a se licenciar da presidência do
PSDB, em 2017 – na esteira do escândalo envolvendo a gravação de uma conversa
na qual o senador pede R$ 2 milhões a Joesley --, houve perseguição àqueles que
pediram o seu afastamento.
O deputado lembrou, por exemplo, que, “em pleno exercício de
sua ‘licença’”, Aécio destituiu o Diretório do PSDB no Acre. À Executiva do
partido, Rocha disse, porém, que o pedido de expulsão de Aécio nada tem a ver
com esse episódio. “Durante todo escândalo envolvendo seu nome, o senador não
se importou com a história do partido, levando-o de roldão, na esteira das
gravações e filmagens de recebimento de recursos de origem ilícita”, escreveu o
deputado na representação. “Nosso PSDB é um corpo orgânico, cada um de nós é
apenas uma célula dentro desse universo e, infelizmente, quando uma célula está
doente, ela deve ser removida, sob pena de colocar em risco a própria
existência do organismo.”
Escolhido recentemente para a presidência do Conselho de
Ética do PSDB, o deputado Samuel Moreira (SP) garantiu que nada será engavetado
sob sua gestão. “Todas as representações que chegarem ao Conselho de Ética
terão prosseguimento. Nada ficará parado. Tudo terá começo, meio e fim”,
afirmou ele ao Estado. “As instâncias partidárias têm de funcionar e decidir. O
Conselho de Ética vai emitir um parecer, seja ele favorável ou não.”
Aécio nega todas as acusações e têm chamado os delatores de
“criminosos confessos”. Em seu último discurso como senador, no dia 12, o
tucano disse que estava vivendo dias “extremamente difíceis” e admitiu ter
cometido um “erro” ao aceitar ajuda de Joesley. Na sua versão, houve ali uma
“história armada” para incriminá-lo. “Mas eu não perco a minha fé”, afirmou
Aécio, em discurso na tribuna – Estadão.
Carlos Magno
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