Um comentário do presidente Jair Bolsonaro numa rede social
contra uma jornalista gerou muitas críticas nesta segunda-feira (11).
"Constança Rezende, do 'O Estado de SP' diz querer
arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o Impeachment do Presidente Jair
Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otávio, profissional do 'O Globo'. Querem
derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos", escreveu
o presidente, em post às 20h51 de domingo.
Bolsonaro se baseou em uma publicação de um site de
apoiadores do seu governo. O presidente republicou uma gravação postada no site
que mostra a interpretação distorcida de uma resposta em inglês da repórter
durante uma conversa com um suposto estudante interessado em fazer um estudo
comparativo entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Antes da postagem do presidente, o jornal "O Estado de
S.Paulo" já havia publicado um esclarecimento dizendo que o site citado
por Bolsonaro distorceu o conteúdo da entrevista da repórter. O jornal informou
que Constança não fala em "intenção" de arruinar o governo ou o
presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas.
O "Estadão" diz que, em determinado momento, a
repórter avalia que "o caso pode comprometer" e "está arruinando
Bolsonaro", mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse
sentido.
O conteúdo desse áudio havido sido divulgado no começo de
março no blog de um jornalista que atua na França, Jawad Rhalid.
O jornal "O Estado de S.Paulo" esclareceu também
que a repórter Constança Rezende não deu entrevista nem conversou com o
jornalista francês.
Caso Queiroz
O jornal afirmou, ainda, que o site brasileiro falsamente
atribui à repórter a publicação da primeira reportagem sobre as investigações
do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) a respeito da
movimentação considerada atípica nas contas do ex-assessor do senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ).
Um relatório do Coaf apontou no fim do ano passado
transferências atípicas feitas por Fabrício Queiroz. Ele movimentou R$ 1,2
milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Queiroz foi assessor na
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro de Flávio Bolsonaro, filho mais velho
de Jair Bolsonaro e hoje senador.
Outro relatório do Coaf apontou transações bancárias
suspeitas na conta de Flávio, entre junho e julho de 2017. O relatório detalhou
48 depósitos em dinheiro no valor de R$ 2.000 cada um na conta de Flávio
Bolsonaro.
Texto compartilhado
Segundo o blog do jornalista Ruben Berta, Fernanda Salles
Andrade, que assina o texto do site compartilhado por Bolsonaro, tem cargo em
gabinete do deputado estadual de Minas Gerais, Bruno Engler (PSL). O Jornal
Nacional também confirmou essas informações.
De acordo com o jornal "O Estado de S.Paulo", o
site dos apoiadores de Bolsonaro voltou a atacar a jornalista utilizando-se de
conteúdo falso. Publicou duas mensagens retiradas de um perfil que não era da
repórter.
O deputado Bruno Engler admitiu que a assessora dele é a
responsável pela publicação no site brasileiro, mas disse Fernanda Salles
Andrade apenas reproduziu reportagem de um site americano.
No fim da tarde, o site francês Mediapart, que hospeda o
blog de Jawad Rahlid, afirmou que se solidariza com a jornalista vítima de
ameaças. O Mediapart disse, ainda, que as informações que serviram de base para
a publicação do presidente são falsas. O site afirmou que o artigo é de
responsabilidade de Jawad Rahlid e o blog é independente da redação do jornal.
Reação
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) afirmaram que "o
presidente Jair Bolsonaro fez um novo ataque público à imprensa, desta vez
valendo-se de informações falsas. Isso mostra não apenas descompromisso com a
veracidade dos fatos, o que em si já seria grave, mas também o uso de sua
posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas, uma
atitude incompatível com seu discurso de defesa da liberdade de
expressão".
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão
(Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação
Nacional de Jornais (ANJ) afirmaram que "lamentam que o presidente da
República reproduza pelas redes sociais informações deturpadas e
deliberadamente distorcidas com o sentido de intimidar a jornalista e a
liberdade de expressão".
Abert, Aner e ANJ destacaram que "os ataques à repórter
têm o objetivo de desqualificar o trabalho jornalístico, fundamental para os
cidadãos e a própria democracia". As entidades afirmaram, ainda, "que
a tentativa de produzir na imprensa a imagem inimiga ignora o papel jornalístico
independente de acompanhar e fiscalizar os atos das autoridades públicas".
Desafio
Especialistas afirmam que a disseminação de informações
falsas, as chamadas fake news, é um dos principais desafios a serem enfrentados
atualmente, porque prejudica a tomada de decisões e coloca a democracia em
risco.
Pesquisa publicada na revista americana "Science"
feita entre 2006 e 2017 com mais de 126 mil notícias concluiu que a
probabilidade de fake news serem compartilhadas na internet é até 70% maior do
que a de uma notícia verdadeira. Elas se espalham mais rapidamente e atingem um
maior número de pessoas.
O Palácio do Planalto não quis se manifestar – G1.
Carlos Magno
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