Mauricio Kubrusly está de saída da Globo, após 34 anos como
contratado da emissora. A informação foi confirmada nesta sexta-feira, 31, pela
assessoria de imprensa do canal, com um comunicado enviado pelo diretor de
jornalismo, Ali Kamel, aos colegas do jornalista.
“Como definir o estilo, o jeito de contar histórias de um
jornalista tão original como o Mauricio Kubrusly? Sim, esse e-mail é para
contar que Kubrusly está deixando a TV Globo. E para homenageá-lo também”, diz
o texto.
De acordo com a mensagem, Kubrusly vai investir em um
projeto pessoal. “Depois de 34 anos na Globo, ele parte para viver novo sonho”,
afirma Kamel.
Kubrusly começou a carreira no jornalismo em meados nos anos
1960, no Jornal do Brasil. Trabalhou no Jornal da Tarde e na Folha de S.Paulo
antes de fundar a revista Som Três, especializada em música. Chegou à Globo no
final dos anos 1970, como crítico de música do Jornal Hoje. Foi contratado pela
emissora como repórter em 1985.
“Kubrusly não dá pra classificar, rotular. Ele é o oposto do
convencional. Poucos repórteres podem dizer que criaram uma marca”, diz Kamel
no comunicado. “Mauricio Kubrusly conseguiu. Do jornalismo cultural dos anos
1970 e 80 a um dos quadros mais adorados da história do Fantástico, ele virou
referência na nossa profissão. Com leveza, inteligência e generosidade. Poucos
conseguiram de imediato fazer parte da memória afetiva do programa. Com o seu
Me leva Brasil, Kubrusly conseguiu. É um feito.”
Confira abaixo a
mensagem de Kamel na íntegra:
“Como definir o
estilo, o jeito de contar histórias de um jornalista tão original como o
Mauricio Kubrusly? Sim, esse e-mail é para contar que Kubrusly está deixando a
TV Globo. E para homenageá-lo também.
Definir o estilo não é
fácil, e para tentar responder a essa pergunta, assisti ao primeiro VT do
Kubrusly como repórter contratado da TV Globo. O ano era 1985. O assunto, a
reestreia em São Paulo da peça Ubu, Pholias Physicas, Pataphysicas e Musicaes,
do Grupo Ornitorrinco, com Cacá Rosset e Rosi Campos. Convido vocês a conferir
o arquivo em anexo.
Entenderam? Kubrusly
não dá pra classificar, rotular. Ele é o oposto do convencional. Poucos
repórteres podem dizer que criaram uma marca. Mauricio Kubrusly conseguiu. Do jornalismo
cultural dos anos 1970 e 80 a um dos quadros mais adorados da história do
Fantástico, ele virou referência na nossa profissão. Com leveza, inteligência e
generosidade. Poucos conseguiram de imediato fazer parte da memória afetiva do
programa. Com o seu Me leva Brasil, Kubrusly conseguiu. É um feito.
Carioca criado em
Botafogo, Kubrusly foi aluno do Colégio Pedro II. Desde cedo, o jornalismo o
atraiu: participou de dois jornais estudantis e começou cedo a carreira, aos 18
anos, em 1963. Não demorou e já estava no Jornal do Brasil, entrevistando gente
de ouro como Vinicius de Moraes. Pouco depois, mudou-se pra São Paulo e logo
foi trabalhar no recém-criado Jornal da Tarde.
Nos anos 1970,
Kubrusly se especializou como colunista e crítico musical. Tornou-se uma
“autoridade”, embora a palavra não combine com o jeito despojado dele. Da
revista Senhor à Somtrês, que minha geração lembra com saudade, passando pelo
programa de rádio “Sr. Sucesso”, da Excelsior, ele se tornou um dos mais
respeitados jornalistas de cultura. Entrevistou todos os grandes nomes da nossa
música, sem preconceito e sem reverência cega. Ao lado de Zuza Homem de Mello,
no programa “Jogo da Verdade”, na TV Cultura, Kubrusly fez a última entrevista
de Elis Regina, em 1982. Ela morreu duas semanas depois.
A aproximação com a
Globo foi aos poucos. Em 1979, Vera Iris tentou contratá-lo, mas ele não quis.
Preferiu fazer participações esporádicas, como colunista em alguns telejornais.
Veio pra valer em 1985, cobriu o primeiro Rock in Rio e foi construindo a
persona inimitável que a gente reconhece no vídeo em poucos segundos.
Kubrusly virou
repórter exclusivo do Fantástico em 1997, e o Luizinho, lá de Portugal, conta
que a sintonia foi forte e imediata, sem se apegar a fórmulas prontas, sempre
criativo: ‘Não conheci ninguém mais habilidoso que o Mauricio na arte de
extrair, dos personagens, fossem eles ricos ou pobres, caipiras ou doutores,
histórias – as mais engraçadas; sentimentos – os mais profundos. Com aquele
jeito fanfarrão e descontraído, se divertia com as mais estranhas bizarrices.
Mas também tinha elegância e respeito para narrar delicados dramas humanos’.
Em 1998, Kubrusly
propôs a reportagem que viria a ser o embrião de um dos quadros de maior
sucesso do Fantástico. Ele embarcou na viagem de ônibus mais longa do Brasil,
quase cinco mil quilômetros entre Pelotas e Fortaleza. Depois dessa aventura,
ele não tirou mais da cabeça a ideia de percorrer o país pra contar as
histórias de brasileiros peculiares. Em 2000, nasceu o Me Leva Brasil.
O título certeiro foi
ideia de Zeca Camargo. Em 17 anos no ar, o Me Leva Brasil rendeu 270
reportagens. O conceito foi ampliado para temporadas internacionais, viajando
por países como Itália, Portugal, Índia. O quadro revelou personagens impagáveis,
como o senhor mais azedo e mal-humorado que já se viu, o Seu Lunga; o pão-duro
de Caicó, que chegava a dividir um palito de fósforo em dois pra economizar; o
bode que seguia cortejos fúnebres; o padre ginecologista, a mulher-sereia…
Figuras que a produtora Karina Dorigo encontrava nos recantos mais distantes.
Ela ajudou a formatar o quadro, trabalhando em parceria com o Kubrusly nos
primeiros quatro anos de Me Leva Brasil.
Kubrusly também
visitava festas regionais. Numa entrevista, ele disse: “Pode ser a festa do
caqui, da banana, do chifre de boi, da farofa. Até a festa da farofa eu fiz,
Campeonato Brasileiro de Farofa. E era engraçado, porque o Pedro Bial dizia
sempre assim: ‘Festa! Onde andará o Mauricio Kubrusly?’ E abria pra mim. Quando
terminava o meu trabalho, eu ficava conversando com as pessoas”.
Nos últimos anos a
saúde deu três sustos, superados, mas que fizeram o querido Kubra, como o
pessoal do Fantástico gosta de chamá-lo, seguir outros caminhos. Depois de 34
anos na Globo, ele parte para viver novo sonho. Um projeto pessoal que, logo
mais, será dividido por ele com todos.
Kubrusly, obrigado por
todos esses anos de extrema competência e profissionalismo. Sua contribuição
para a Globo e para o jornalismo brasileiro já são História (com agá maiúsculo).
Uma história que vai continuar a ser escrita fora daqui. Em meu nome pessoal e
no da Globo, eu expresso uma imensa gratidão. Muito obrigado.
Bruno Bernardes, que
pegou o bastão de Luizinho, e que acompanhou seu trajeto no Fantástico por
vinte anos, sempre com admiração, me faz terminar esse e-mail com a observação:
‘Mas você ainda não
explicou o que é Pataphysica!’
Kubrusly, obrigado e
boa sorte.
Ali Kamel.”- Veja.
Carlos Magno
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